terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Crise financeira muda destinos de intercâmbio


Alta do dólar torna EUA e Europa menos atraentes aos viajantes



O sonho do intercâmbio estava quase realizado. Você escolheu o destino, entrou em contato com agências, cotou os preços dos pacotes e juntou o dinheiro necessário. Só que aí a crise financeira internacional, que se avizinhava desde o ano passado, chegou pra valer em setembro e começou a fazer todo o estrago que poderia. Que o digam os bancos Lehman Brothers e Citigroup, dois gigantes do mercado americano que não saíram ilesos da crise. O primeiro quebrou e o segundo depende de ajuda bilionária do governo dos Estados Unidos para não compartilhar o mesmo destino. Daí, muita gente que pretendia comprar um pacote de intercâmbio teve de sentar e reavaliar a decisão, pois o cenário mudou e o que antes era acessível se tornou inviável.

A partir do mês de setembro, quando a crise entrou em sua fase mais aguda, a variação cambial passou a ameaçar os planos internacionais de muita gente. Aquela viagem de estudos passou a custar muito mais caro. As agências de intercâmbio ouvidas pelo Universia são unânimes em dizer que o valor dos cursos não aumentou significativamente. Para elas, o responsável pela alta dos pacotes foi a desvalorização do Real frente ao Dólar. De fato, a variação do preço do Dólar por si só seria responsável por reajustes significativos. Basta ver o quanto a moeda se valorizou desde agosto. No dia 29 de agosto, último dia útil daquele mês, a moeda foi cotada a R$ 1,63 para venda. No dia 13 de novembro, a cotação fechou a R$ 2,33, resultando em alta de 42,64% para o período.

Para Claudia Martins, gerente de comunicação da STB, esse tipo de problema no mercado de intercâmbio não é novidade. Ela compara a desconfiança atual com outras situações de crise nacional ou internacional. Acontecimentos que afetaram o interesse dos negócios, tal qual fizeram a maxidesvalorização do Real em janeiro de 1999 ou os ataques ao World Trade Center, em Nova York, em setembro de 2001. "Vimos isso acontecer em outras oportunidades e é assim mesmo. Tão logo a coisa se restabeleceu, as pessoas voltaram a investir (em intercâmbio). É uma pausa nos negócios, mas que termina tão logo o preço do dólar se estabilize", acredita.

Segundo o diretor comercial da Experimento, Roberto Caldeira, houve queda de 30% no número de pacotes vendidos durante o mês de outubro. Além disso, Caldeira afirma que caiu também a procura por programas de intercâmbio. Ele garante que o movimento de pessoas interessadas em obter informações sobre estas viagens caiu em cerca de 10%. "Essa queda na procura significa que as pessoas estão pesquisando e esperando o melhor momento para fechar, querem fazer isso na melhor oportunidade", explicou ele, que confirmou que os pacotes vinculados diretamente ao dólar americano foram os mais afetados. Daí, os Estados Unidos são o destino que mais perderam atratividade para os viajantes brasileiros.

Luiza Vianna, gerente de produtos da CI, se mostra confiante de que os problemas são passageiros. "O mercado de intercâmbio tem comportamento diferente do turismo tradicional porque é visto como forma de investimento. No começo (da crise) as pessoas ficaram receosas, viram o dólar oscilar muito, mas, conforme a cotação se ajusta e pára de oscilar, todo mundo fica cada vez mais tranqüilo", garante. Ela acrescenta que o impacto nos negócios da agência não foram tão fortes. No entanto, reconhece que muitas pessoas estão esperando para fechar os pacotes de viagem.

Em meio ao turbilhão de informações e acontecimentos que assustam os intercambistas, há os que já decidiram e não estão dispostos a abrir mão da viagem por causa da crise. Muitos desses são irredutíveis quanto a ir viajar, mas se mostram flexíveis com relação ao destino, desde que algumas expectativas básicas em relação ao que haviam planejado sejam satisfeitas. Luiza admite que o plano da CI tem sido esse, ou seja, apresentar alternativas que aliem o que os intercambistas querem com a possibilidade de evitar ou minimizar os efeitos da crise.

"Se por um lado o dólar americano aumentou, a moeda neozelandesa ou a australiana não subiram tanto. Então fizemos um marketing forte em cima disso", afirma Luiza. Segundo ela, a turbulência internacional foi uma oportunidade para a promoção de novos destinos, que se tornaram competitivos com a alta do dólar americano. De acordo com a gerente de produtos da CI, os países que mais cresceram na esteira da crise foram Nova Zelândia, Austrália, África do Sul e até o Canadá, país que esteve em alta nos últimos anos, mas que também aparece muito próximo à contaminação da crise. Claudia Martins, da STB, acrescenta a Irlanda à lista. "É uma boa opção para quem pretende ir para a Europa, porque tem um custo de vida ligeiramente mais baixo do que o da Inglaterra, por exemplo", sugere. Esses são países cujas moedas não estão tão valorizadas perante o Real e que, por isso, os pacotes pouco sofreram alteração de preço, ao contrário do que acontece com a maioria dos países da Europa e com os Estados Unidos.

O diretor comercial da Experimento deu um bom exemplo de como a crise financeira prejudica quem está viajando e de como é importante prestar atenção a detalhes que fazem toda a diferença. "Quem optou por viagem de trabalho no verão nos Estados Unidos teve problemas. Isso porque quem viaja mais dentro do país nessa época é a classe média americana, que foi justamente a mais afetada pela crise. Isso muda no inverno, por exemplo, quando o público que viaja tem um poder aquisitivo maior. Então, a demanda por trabalho no inverno não muda", exemplifica Caldeira.


Oportunidades com o câmbio desvantajoso

Quem imagina que a desvantagem cambial apresenta somente problemas está enganado. Ela abre, assim como a própria crise, oportunidades interessantes. Quem dá a dica é a gerente de produtos da CI. De acordo com Luiza Vianna, assim como é mais caro comprar o pacote para países com moeda valorizada em relação ao Real, como o Dólar Americano e o Euro, quem aliar uma vida regrada em lugares que usem essas moedas ao trabalho - permitido dentro dos limites da legislação local - terá uma bela surpresa quando der uma olhada naquilo que conseguiu juntar. "Quando existe a possibilidade de trabalhar durante o intercâmbio, eles vão ganhar mais pela valorização da moeda local. Só que pouca gente se dá conta disso, vai muito da orientação sobre esses detalhes", declara Vianna.

Claudia aconselha planejamento para quem pretende viajar ao exterior numa viagem de intercâmbio. Segundo ela, mesmo que a valorização do câmbio tenha encarecido o pacote desejado, pequenas lições de educação financeira podem abrir as portas para o sonho de morar provisoriamente noutro país. Ela sugere que os intercâmbistas raciocinem com a seguinte lógica: se você deixar de gastar com supérfluos na viagem, vai compensar o valor mais alto do pacote e equilibrar o orçamento mesmo em tempos de crise financeira assustando o mundo. "Prefira direcionar os gastos para o fundamental, como transporte, alimentação e atividades que agreguem convício social com aprendizado do idioma. Pense em cada centavo que vai gastar. Existem várias maneiras de maximizar o dinheiro. Se ficar em casa de família, use o conhecimento deles para colher dicas de lugares para ir. A escola pode ajudar também. Não pode ter vergonha de perguntar. Não fique triste se não puder comprar coisas. Com policiamento no cotidiano não é muito diferente de estar aqui mesmo no Brasil", diz Claudia.



Fonte: http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=17046

Nenhum comentário: